terça-feira, 28 de setembro de 2010

O SILÊNCIO DE DEUS

Abraão é um personagem importantíssimo dentro do ensino da Bíblia, foi chamado amigo de Deus por três vezes e também tem sido intitulado como o pai da fé pelos comentaristas bíblicos, pois foi através dele que se consumou o plano de Deus de levantar a nação de Israel, e através desta, enviar Jesus como o nosso Senhor e Salvador. Em Gn 12 narra o chamado de Abraão, e o texto nos mostra que ele saiu de sua terra e parentela para caminhar pela fé, em direção à uma terra que não tinha nome nem mesmo sabia onde era, pois o Senhor disse: para uma terra que eu te mostrarei. Naquele tempo toda comunicação com Deus, exigia que se erguesse um altar de sacrifício, que simbolizava o altar definitivo que um dia iria se erguer no calvário, o sacrifício de Jesus. Por isto, Abraão ergueu vários altares, era o lugar de comunicação com Deus. Em Gn 12.8, porque Abraão chega numa encruzilhada, entre dois extremos, ocidente e oriente, entre Betel e Ai, ele ergue um altar, invoca o Senhor, pois ele queria uma direção para continuar sua caminhada, mas o que aconteceu e que deve ter sido uma surpresa desagradável para Abraão, é que Deus ficou em total silêncio, simplesmente não disse nada. Abraão desta forma estava perplexo, sem saber o que fazer, o que levou ele a partir para dois atalhos: Neguebe e Egito (Gn 12.9-10). No primeiro atalho, havia fome, a situação foi mais desagradável ainda, e no segundo houve uma aparente solução, mas no final foi obrigado a deixar aquele lugar (Gn 12.19-20). A perplexidade é uma das experiências dentro da vida cristã, quando nos deparamos com o silêncio de Deus, e quase sempre, temos a mesma tendência de Abraão, procurar atalhos, o que na verdade só vai dar em frustração, pois não é esta a vontade de Deus. Os atalhos constituem em fugas para quem se encontra perplexo, sem saber o que fazer. Eu vivi isto intensamente, quando ainda jovem, e com alguns poucos anos de conversão, tinha algumas metas pessoais, mas ignorava que estas não estivessem dentro do plano de Deus. Nesse tempo morei em S.Paulo, estudando publicidade, mas não sentia paz, e eram muitas as lutas naquele lugar, morava num pensionato, que era um verdadeiro prostíbulo, onde na parte de baixo moravam os homens, e na de cima as mulheres, e lá estava eu no meio daquele terrível ambiente, e olha que era um quarteirão da Av. Paulista, em SP, parte nobre da grande capital. Eu não sentia paz em tudo o que estava acontecendo, eu buscava, orava, jejuava e clamava a Deus, mas nada, parecia que estava surdo, eu estava numa situação semelhante a de Abraão, Deus permanecia em silêncio enquanto eu o invocava. Tenho que confessar que andei até por uns atalhos, eu era novo, inexperiente, não tinha orientação, não freqüentava uma boa igreja, estava meio sozinho naquela confusão, e infelizmente apelei para alguns atalhos em busca de resposta, mas do mesmo modo, foi frustrante e tive que humildemente retornar ao meu clamor diante de Deus, e foi justamente o que aconteceu com Abraão, o texto de Gn 13.1-4, mostra que ele retornou até aquele altar que havia construído, e novamente invoca o Senhor, só que a perplexidade continua, porque Deus também continuava em silêncio. Há uma passagem de II Co 4.8, quando Paulo diz que muitas vezes ficamos perplexos, porém não desanimados, e o mais importante diante da perplexidade no silêncio de Deus, é não desanimarmos, ou usando uma outra palavra mais forte, não desistirmos. Leia este texto por completo (II Co 4.8-18), observe nas palavras de Paulo, um homem pronto para tudo, sabendo que para que Jesus viva em nós, precisamos morrer para nós mesmos, é o que devemos fazer na perplexidade, morrer para nossos sentimentos e desejos, para que possamos alcançar o coração de Deus e sua vontade que é a melhor para nossas vidas. Veja o que aconteceu com Abraão, na seqüência dos fatos, ele parte para uma nova experiência de crescimento. No silêncio de Deus, ele deve ter refletido muito, e algumas coisas começaram a acontecer, que levaram Abraão a uma decisão importante. Primeiro ele deve ter percebido o seu erro de ter trazido consigo um sobrinho complicado, Ló, com seus empregados complicados, pois a Bíblia menciona da impossibilidade de viverem juntos e das contendas entre os seus pastores com os de Ló (Gn 13.6-8). Deus já havia dito para sair de sua parentela, ele não devia trazer este sobrinho com ele, e agora ele toma a decisão radical de se separar de Ló, estava determinado em andar em direção totalmente oposta a dele (Gn 13.9). Nesta decisão há grandes ensinamentos para nossas vidas em meio às perplexidades:

1. A fé que nos leva a separar daqueles que podem prejudicar nossa caminhada, é claro que hoje entendemos que esta separação é espiritual, podemos até nos relacionar com todos, mas é impossível compartilhar a vida com todos, pois não há comunhão da luz com as trevas, o primeiro motivo do silêncio de Deus, é justamente porque Ele nos quer inteiramente para si, a Bíblia diz que ele nos possui com ciúmes (Tg 4.4-6), ser cristão é como estar casado com Deus, o nosso amor para com Ele é prioridade, nada deve ser mais importante para nós do que Deus, Ele deve ser a paixão principal de nossas vidas, fico feliz por hoje Ele estar levantando uma igreja apaixonada por ele, pronta a tudo por ele, um povo que busca o abençoador, antes das bênçãos.

2. A fé que nos dispõe para a renúncia, pois com todos os direitos que Abraão tinha, sendo o chefe da caravana, sendo o mais velho, sendo o tio, ele entrega todos os seus direitos e concede a Ló o direito de decidir para onde ir, e assim ele iria na direção oposta, fico impressionado de ver a sabedoria de Abraão.

3. A fé de caminhar sem se preocupar com o que os olhos vêm, pois ter fé, é andar pelo que cremos e não pelo que vemos.

4. A fé de caminhar superando os sentimentos, pois imagine o lado emocional desta situação toda que ele estava vivendo, mas a fé é também caminhar pelo que cremos e não pelo que sentimos.

5. A fé de tomar a iniciativa, pois ter fé não é algo somente passivo, de esperar tudo acontecer, mas há coisas que devemos fazer, e Abraão tomou a iniciativa dizendo: não haja contenda entre mim e ti...(vers.8), uma decisão precisava ser tomada, e esta era a separação de seu sobrinho.

6. A fé de não guardar amargura e ressentimentos pelas diferenças de relacionamentos, pois mais pra frente vamos encontrar Abraão lutando a favor de seu sobrinho, até mesmo entrou numa guerra a favor de Ló, e ainda mais pra frente, Abraão intercede por Ló, quando soube que Sodoma e Gomorra seriam destruídas; porque apesar de tudo, Abraão nunca deixou de amar seu sobrinho e de se preocupar por ele.

Depois de tudo isto, é fantástico o que aconteceu e o texto é bem claro: “Disse o Senhor a Abraão, depois que Ló se separou dele...” (Gn 13.14). O silêncio de Deus é quebrado depois desta decisão de Abraão, Deus queria vê-lo tomando uma decisão pela fé, pois muitas coisas estavam envolvidas nesta decisão, e agora Deus diz o quanto ele estava no caminho certo e podia continuar a sua caminhada de fé. Quando vivi aquela experiência em S.Paulo, também vivi um momento como este de Abraão, foi em meio aquela minha luta pessoal em S.P. que resolvi pra valer entregar de vez minha vida nas mãos de Deus, inclusive abrir mão de todos os meus desejos, não foi fácil naqueles dias fazer isto, pois eu tinha vários planos, e estes não combinavam com os de Deus, mas quando chorando, e com muita dor eu me decidi, Deus falou comigo pela primeira vez de forma muito clara. Eu estava dentro de um ônibus em S.Paulo, quando se apresentou para mim como um gigantesco Deus, me tomando nos braços como uma pequena criança e dizendo: Daniel, meu filho, eu o amo muito, e tenho coisas melhores para você, apenas confie em mim. Recordo-me disto como se fosse hoje, e meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar daquela cena maravilhosa que ocorreu em minha vida. Eu queria pular de alegria, gritar, eu chorava emocionado dentro daquele ônibus e quando ele parou no ponto, eu desci jubilante e cantava altamente pelas calçadas da Av. Paulista, louvores ao meu grande Deus que tinha me visitado naquele ônibus. À partir daquele dia foram grandes as mudanças na minha vida, deixei para trás os meus sonhos, para viver os sonhos de Deus, que tenho certeza foi muito melhor, pois a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita para com os seus filhos. Minha oração, é para que você entenda também a importância de passar pelas perplexidades, mas jamais desistir de amar e servir ao Senhor, pois Ele nos ama muito, tem o melhor para nós e jamais nos abandonará, Aleluia!!!

4 comentários:

  1. E essa é a perplexidade do silencio de Deus: mesmo sabendo que Ele nos ama e não nos quer só, Ele mesmo assim nos deixa, para que possamos aprender sobre Sua dependência...
    Ótimo texto! Estou te seguindo!
    Abraços!

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  2. DE FATO, COMO É BOM APRENDER A DEPENDER DE DEUS...UM EXCLENTE FINAL DE SEMANA. ABRAÇÃO.

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  3. Pr Daniel , acabamos de ler essa mensagem junto com a minha familia , a sua palavra foi mto edificante para nossos corações! abraço para toda sua familia e que Deus continue abençoando nossas vidas...
    Edvaldo, Vera , Talita e Débora

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  4. Pastor Daniel, ter ouvido a voz de Deus em São Paulo foi muito importante, mas a sua atitude de entender a vontade dEle foi fundamental para você se tornar uma benção na vida de muitas pessoas, inclusive a minha e da minha família.
    Deus abençoe você e a Cecília todos os dia da sua vida. Um grande abraçco.

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